REPOSIÇÃO DE AULA DO DIA 16/11 PARA 3H - REFLEXÕES SOBRE AS CANÇÕES "ASA BRANCA" e "SÚPLICA CEARENSE"

19-11-2010 19:20

 

Asa Branca

Composição: Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira

Quando oiei a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu preguntei a Deus do céu,ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Hoje longe muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão

Quando o verde dos teus óio
Se espanhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração


A canção “Asa Branca” de Luís Gonzaga e Humberto Teixeira, mostra o desencanto do homem nordestino durante a seca; trata do tema da seca no nordeste e a saída do morador para outro local, deixando a terra e a mulher amada para buscar a subsistência, prometento voltar quando o verde da vegetação ( a fertilidade da terra ) retornar após a chuva.

 

Quando olhei a terra ardendo,

como fogueira de São João.

Eu perguntei, a Deus do céu,

por quê tamanha judiação!”

 

No primeiro verso, descreve o tipo de solo da região das secas, uma terra vermelha, quente como o fogo da fogueira, porém transmite a alegria, a cultura desse sertanejo quando fala da festa junina. No segundo verso trata da questão da crença, onde são predominantemente católicos tendo a devoção do Padre Cícero, abordando a questão da religiosidade fazendo um pedido para que a “água”, a chuva, amenizasse o tempo climático, pois segundo AB’SABER (2003, p.85), no período seco há a predominância de nuvens esparsas, mas não chove, entretanto na estiagem os sertões funcionam, muitas vezes, como semidesertos nublados.

“Que braseiro, que fornalha,

nem um pé de plantação.

Por falta d´água, perdi meu gado

morreu de sede meu alazão.”

 Nisso SAUER apud SANTOS (1997, p. 64), considera dois tipos de paisagem, a natural e a artificial, pois a transposição será feita através da canalização de parte do rio São Francisco; e argumenta que a medida que o homem se defronta com a natureza,há entre os dois uma relação cultural, que é também política ou técnica. Com isso, a territorialidade é entendida como tentativa de um indivíduo ou grupo de atingir, influenciar ou controlar pessoas, fenômenos e relacionamentos através da delimitação e controle sobre uma área geográfica. (SACK apud HAESBAERT. 2002, p.19)

 

Conforme HAESBAERT (1988, p.19), o espaço está reduzido pelos marxistas, onde o conceito de região tenderia a desaparecer, pois reconhece nele um espaço vivido e que a própria delimitação política e o polígono da seca acaba forçando uma identidade. Nessa abordagem materialista dialética, a região passa a ser concebida como produto da desigualdade sóco-espacial intrínseca ao desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo.

“ Até mesmo Asa branca

bateu asas de sertão.

Então eu disse, adeus Rosinha

guarda contigo meu coração. ”

 

De acordo com SANTOS (2006, 328), o conceito de desterritorialização, onde o movimento se sobrepõe ao repouso, e com isso a desculturalização surge no primeiro trecho da música que aponta a migração, no qual o nordestino ao ir para uma cidade grande deixará uma cultura herdada para se encontrar com outra e nisso defronta-se com um espaço que não ajudou a criar.

 

Já no segundo verso traduz a relação do lugar associando ao espaço vivido, onde existe uma afetividade, um envolvimento, nesse caso a Rosinha. E o sentimento de pertencimento é o que determina e classifica o espaço, e ao mesmo tempo a afetividade que o povo projeta a um lugar, insuficiente para compreender a fenomelogia ou o espaço vivido (TORRES, 2006,p.5).

 

“ Hoje longe muitas léguas

numa triste solidão.

Espero a chuva cair de novo

pra mim vortá pro meu sertão.”

 

Citando HAESBAERT (2004, p.127), no outro verso o local onde esses migrantes se deslocaram já possui a sua territorialidade, ocasionando a reterritorialização, pois ao retornar ao seu Sertão, o sertanejo volta com mais experiências vividas dos lugares que se estabeleceram.

 

“ Quando o verde dos teus olhos

se espalhar na prantação.

Eu te asseguro,num chore não,viu?

que eu voltarei,viu, meu coração. ”

 

A expressão verde dos teus olhos reflete o tipo de vegetação do Sertão, que é a caatinga, pois na língua Tupi Guarani significa mata branca, nisso os galhos sem folhas, outros com folhas secas e uma coloração cinza esbranquiçada. AB’SABER (2006, p.85) nos elucida em afirmar que quando chegam as primeiras chuvas, as árvores e arbustos de folhas miúdas e múltiplos espinhos protetores entremeados por cactáceas empoeiradas, tudo reverdece. Sendo que a existência de água na superfície dos solos, em combinação com forte luminosidade dos sertões, restaura a funcionalidade da fotossíntese e nisso o verde designa, o rebrotar.

 

De acordo com TORRES (2006, p.13), no último verso, representa que cada indivíduo quer ocupar “seu espaço” se manifestar através de sua região, através de suas ações sobre os objetos da paisagem através de suas manifestações simbólicas ou concretas, não importando o lugar onde ele tenha escolhido para seu “assentamento espacial”.

 

Feita a análise da letra de Asa Branca, buscamos nos conceitos de HAESBAERT apud CORREA (2000, p.170), no que se refere ao processo de globalização colocando uma tríade conceitual para se compreender a desterritorialização: território, onde prevalece a política; a rede, prevalecendo a economia, e os aglomerados de exclusão, em que os indivíduos perdem seus laços com o território e passam a viver numa mobilidade e insegurança atrozes, como por exemplo em grupos de sem-teto; nesse caso os próprios nordestinos.

 

  O tema da canção é a seca no Nordeste brasileiro que é muito intensa, a ponto de fazer migrar até mesmo a ave asa-branca (columba picazuro, uma espécie de pombo). A seca obriga, também, um rapaz a mudar da região. Ao fazê-lo, ele promete voltar um dia para os braços do seu amor.

 

Asa Branca é também o nome de uma cidade ficticia1989), exibida na Rede Globo de Televisao, trata-se de uma cidade nordestina que vive graças aos negocios de Sinhozinho Malta, grande fazendeiro da regiao. A cidade tem uma igreja onde o padre Albano e a filha de Sinhozinho Malta mantém um romance proibido, um lupanar, a casa do prefeito, uma barbearia, a casa da viúva Porcina e de seu Zé das Medalhas e muitos outros estabelecimentos. A cidade ainda é assombrada pelo lobisomem. da telenovela Roque Santeiro (

Asa branca é também uma ave brasileira da família dos columbideos muito comum no sertão nordestino e cujo nome científico é Columba picazuro. Esta ave é mencionada na canção Asa Branca de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.

Os autores desse forró romântico Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, têm uma visão romântica poética e realista do cenário do Nordeste brasileiro. A música fala da Seca no Nordeste brasileiro, que por ser muito intensa, obrigando o seu povo a migrar, assim como as aves também, a exemplo da asa branca que é um tipo de um pombo (columba picazuno) que quando bate asa do sertão anuncia a seca. Migração essa que é feita por homens (hoje, por homens e mulheres, mas na época da música era feita só por homens) que deixam sua cidade, sua região, procurando melhorias de vida e sustento da família, saindo deixa para trás mulher e filhos .

 Assim, está explicito a divisão de papéis sociais do homem como o provedor e da mulher que fica para cuidar dos filhos e do lar.

Essa música foi composta em 1947, a seca castigava o Sertão, fazendo aflorar o êxodo rural, conhecido também como retirantes ruralistas, passam-se os anos e a seca continua assolando o Sertão, trazendo com ela o inchaço das cidades grandes, começando também a discriminação contra os nordestinos. Pois, muitos acreditam que são eles que sujam e enfeiam a cidade, tudo isso porque na maioria das vezes não conseguem empregos e viram mendigos, pedintes, não tendo condições de voltar a sua terra, poucos são os que alcançam êxito. 

A seca continua e o Estado negligência o sertão, pois não há políticas para acabar com a seca e o sofrimento do nordestino. Acabar com esse problema grave, para que? Se é justamente esse problema, a solução para alguns políticos corruptos colocar em sua plataforma política, sendo um dos motivos de promessa das campanhas eleitorais, a chamada “ política da industria”, prometendo melhorias, mais como sempre não cumprindo.

Os compositores faz seu lamento ao criador, por que tamanha judiação do povo e das terras do Sertão? Tão seca que arde como o sol, igual às chamas de uma fogueira em época junina, e por falta da chuva nada nascia e por isso estava partindo.Partiu também mundo a fora Gonzagão com sua interpretação magistral, espalhando a cultura desse povo lutador.

A seca mostrada na música , obriga um rapaz a mudar da região, assim, como a ave Asa-Branca .Prometendo ao seu amor, que um dia irá voltar, para seus braços e verá a terra verde igual aos seus olhos. Portanto o engendramento dos símbolos das linguagens são fortes nessa canção, pois ela e poeticamente cantada, o romantismo por seu amor a Rosinha, a realidade nua e crua da seca no Sertão e o mais forte para os nordestinos a esperança o verde espalhado no Sertão.

 

 

Esta canção, SÚPLICA CEARENSE,  seguindo a tradição do cantor nordestino, traz consigo as dificuldades sofridas pelo povo do nordeste do Brasil, numa perspectiva de um sertanejo que reclama à “Deus” o sofrimento ocasionado pela seca.  

 

Podemos questinar  e abordar o drama do nordestino flagelado pela seca. Mais que isso, porém, a música apresenta diversos conceitos sobre Deus (especialmente no que diz respeito á relação entre Deus e o sofrimento) que merecem a análise:

1. Deus é apresentado como um ser distante e que não se relaciona com os fatos desta vida, sendo para ele um incômodo ter de fazê-lo (por isso o autor diversas pede perdão por fazer-lhe uma petição) - ou, quando o faz, sempre age de maneira punitiva (Oh! Deus, será que o Senhor se zangou/E só por isso o sol se arretirou).


2. Não existe qualquer elemento de pessoalidade ou intimidade na maneira de buscar a Deus. O autor sequer manifesta a esperança de que seja atendido. A Súplica Cearense mais parece um pedido de aumento de salário a um patrão egoísta do que a apresentação de uma necessidade a um pai amoroso.


3. A causa da súplica não-atendida é sempre devido à inadequação do homem às exigências caprichosas de Deus, por não saber buscá-lo com a devida cerimônia ou por não dispor dos conhecimentos necessários para fazer da religiosidade um meio de extorsão para relacionar-se com Deus (Meu Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe/Eu acho que a culpa foi/Desse pobre que nem sabe fazer oração).

O sofrimento histórico do povo nordestino com a seca não deve ser subestimado nem minimizado.


É mais difícil, porém, superar o sofrimento quando temos um conceito errado sobre Deus. Aliás, isto de torna um sofrimento adicional – pois somente a verdade sobre Deus possui caráter libertador.


A Bíblia apresenta um Deus amoroso, misericordioso e compassivo, que se interessa pelos dramas da humanidade. Um Deus que acolhe as súplicas de quem O busca, a ponto de o autor aos Hebreus exortar: Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno (Hebreus 4.16).


Um Deus realista, que reconhece que este mundo não corresponde ao ideal de Sua mente, mas que em Cristo Jesus, já está operando a construção de um mundo novo: esta presente realidade (com todas suas mazelas, que sempre vale a pena lembrar, não fizeram parte da intenção original de Deus, mas são conseqüências da queda da espécie humana) não é a palavra final de Deus à História. E o caráter transitório desta era, dado como certo diante da promessa trazida pelo Evangelho, de novos céus e nova terra, é Sua resposta a todo aquele que “geme” diante das agruras da atual realidade (Romanos 8.19-23), constituindo-se em um convite à marcha, à peregrinação corajosa, dentro desta história, rumo ao futuro prometido por Deus.

Qualquer bênção ou livramento experimentados nesta realidade não são comparáveis à futura consumação plena da promessa de restauração de Deus, nem podem ser a base de nossa fé.

A promessa e revelação de Deus em Cristo é a resposta à Súplica Cearense.

 

O filósofo judeu Emmanuel Lévinas (1906-1995) perguntava-se, após os horrores da 2.ª Guerra Mundial: como falar de Deus depois do horror de Auschwitz?

O teólogo alemão Jürgen Moltmann (1926) apresenta um outro ponto de vista totalmente diferente: como não falar de Deus após Auschwitz.

Desta obra, podemos entender como próprio nome sugere, um nordestino suplicando a Deus os problemas que estão acontecendo e, inserido na cultura local, culpando-se, dentro de sua religiosidade, por não haver chuva que torne sua região menos inóspita e, de certa forma, perguntando ao ser superior à que levanta suas preces os motivos de ser tão castigada a região. Essa letra compõe a trilha sonora ideal para debater os problemas canudenses já que expõe um dos motivos mais relevantes para o fato do agrupamento ter dado certo, os problemas com a seca e a fome. Sendo assim, partiremos agora para a exposição e, dentro de nossas limitações, relacionar a questão do território, junto à canção de Luiz Gonzaga, interpretada pelo grupo “O RAPPA” e o clipe elaborado.

Em Súplica Cearense Luiz Gonzaga descreveu com maestria a angustia, a aflição e principalmente a fé de um povo que mesmo em situações adversas nunca perderam a esperança. O Rappa compreendeu a mensagem da musica Súplica Cearense, se identificaram com a causa para dar uma nova roupagem a canção sem perder a essência.

Tenho que aprender a orar assim. Tenho que aprender a ter esta sensibilidade por minha cidade e Distrito (Estado). Este é um clamor entristecido. É um clamor de alguém que conhece a realidade do seu povo da sua gente e por conhecê-la se entristece e mesmo a reconhecer que não sabe orar direito, insiste em clamar.

Esta realidade precisa ser vivida por nós. Precisamos conhecer nossa gente e a realidade que lhes envolve. No livro de Neemias podemos vislumbrar este fato. Ele recebe a visita de seus irmãos e pergunta como está o povo. Quando é notificado, fica triste, chora e ora a Deus pelo seu povo, mas também se disponibiliza para ser parte da solução do problema. Ele mostra-nos que a mudança e o agir de Deus começa em nós e através de nós.

Nossa oração é réplica, mas réplica que nos coloca no campo de ação. Devemos nos entristecer com o sofrimento que as pessoas estão vivendo. Devemos conhecer a realidade que elas enfrentam e chorando de tristeza clamar ao Senhor para que ele faça chegar a chuva, o alívio para esta gente sofrida.

Uma das piores coisas que pode acontecer ao ser humano é a indiferença. É tornar-se insensível ao problema dos outros. A próxima oração trata deste assunto e fala profundamente da questão de não nos petrificarmos.

 

Súplica Cearense

Composição: Gordurinha e Nelinho
 

Oh! Deus, perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar

Oh! Deus, será que o senhor se zangou
E só por isso o sol arretirou
Fazendo cair toda a chuva que há

Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho
Pedir pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão

Oh! Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe,
Eu acho que a culpa foi
Desse pobre que nem sabe fazer oração

Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água
E ter-lhe pedido cheinho de mágoa
Pro sol inclemente se arretirar

Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o inverno
Desculpe eu pedir para acabar com o inferno
Que sempre queimou o meu Ceará

Na primeira frase, relata a comparação do ‘braseiro, fornalha’ ao calor intenso que é o Sertão, tendo o clima semi-árido na região do polígono da seca. Conforme AB’SABER (2005, p. 85), quando as árvores perdem as suas folhas, os solos se ressecam e os rios perdem a correnteza, enquanto o vento seco vem com os bafos de quentura. E na frase seguinte mostra o baixo índice de pluviosidade e também nos remete a uma questão polêmica:será que a transposição de parte do rio São Francisco seria a solução?

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